Sal e açúcar
A história da fundação da capital do doce, porém, nada teve a ver com açúcar. E sim com o sal. Em 1780, o charqueador português José Pinto Martins se instalou na região. O sucesso de seu estabelecimento acabou atraindo outras charqueadas para o local: os desbravadores vinham produzir o charque bovino que, curtido em sal e sol, poderia ser conservado por meses.
Os charqueados ocuparam fazendas com escravos, feitores e gado. Na sequência, os açorianos trouxeram tradições lusitanas. A riqueza de Pelotas, emancipada em 1835, brilhava. Filhos de ricos comerciantes locais estudavam na Europa. Isso quando Porto Alegre, a 270 km, mal despontara nos mapas.
O mix cultural da formação pelotense se reflete em sua culinária, de traços pomeranos, poloneses, açorianos, libaneses, judeus e angolanos. O acervo arquitetônico mantém vivendas e estâncias espanholadas, sobrados de influência francesa, chafarizes forjados na Europa, ao lado de jardins e avenidas.
Um exemplo dessa arquitetura é a Charqueada Santa Rita, construída em 1826, em estilo colonial. O hotel recebe em seus 13 hectares personalidades políticas e artistas de todo o país. E não é por acaso: quando fiquei hospedada lá me senti totalmente em casa e ligada à história do local. Super recomendo a estadia e a visita guiada que eles oferecem, em que é possível conhecer peças da lida charqueadora, azulejos e pedras de cantaria portuguesas, entre outras reminiscências da época. O passeio termina no completíssimo Museu do Charque.
Mas, se o charqueado faz parte do passado, hoje as esquinas de Pelotas guardam outras delícias. Quindins, compotas, sanduíches, mil-folhas, tortas, frios, rocamboles. Muitas receitas herdadas de conventos de freiras, casas grandes e saraus.
É muito difícil resistir a panelinhas de coco, fatias de Braga, trouxinhas de nozes e bolinhos de bacalhau do Delícias Portuguesas. E a salada de agriões, mexilhões e sementes de romã da cozinha artesanal do Amor Amora? E o Pão de Leite com Ovo do Café Aquários, o mais tradicional de Pelotas? O que dizer das tortas, doces e rocamboles da Salinas Confeitaria? Só mesmo suspirando de prazer. E, na volta, algum “contrabando calórico” na bolsa, claro. Enquanto não vai a Pelotas.
Postagem: Kassio Kothe
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